quinta-feira, 16 de abril de 2020


Mesmo essas laranjas sendo tão bonitas e com um aroma maravilhoso, o sabor nao condiz com a beleza, são amargas feito fel.

[as vezes as aparências enganam, nao é mesmo?]

Sabendo disso, hoje enquanto as colhia so conseguia pensar em como esse caso é semelhante ao caso de tantas pessoas pelo mundo a fora. 

Ouvi um amigo muito alegre e brincalhão dizer: “Se você não é bonito nem rico, seja ao menos engraçado, assim, as pessoas vão te aceitar”. Apesar da brincadeira, as palavras dele apontavam para uma realidade: o ser humano tem uma grande necessidade de ser aceito e notado pelos outros. E, para isso, vale tudo, até mesmo parecer ser alguém que, na verdade, não o é. Talvez alguém belo por fora, entretanto amargo por dentro
 (assim como as laranjas do meu quintal)

No mais, fico triste pela laranjeira nao dar frutos doces, entretanto do mesmo modo que pequenos arbustos crescem por entre calçadas de cimento, desafiando as leis da agricultura e mostrando que podem resistir apesar das intempéries do solo, nos lembrando que nem sempre o solo seco é o solo infértil, estou aprendendo que nem todas as nossas previsões na vida estarão certas (quisera eu ter uma laranjeira de frutos doces), mas que mesmo assim temos mil e uma possibilidades pra tentar novamente... 

Talvez eu plante outra laranjeira... rs
Enfim, é algo a se pensar.

                                                               16/04/2018

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Eu sou um planeta totalmente fora de órbita vagando em um imenso vazio.
Eu sou uma estrela que brilhava entre a escuridão, mas que se apagou porque o brilho nao fazia mais tanto sentido.
Eu sou a árvore que floresce na primavera, mas tem as suas folhas cortadas no final da estação.
Eu sou aquele livro na sua prateleira que você passa por ele toda manhã, mas não tem tempo nem de ler o título.
Eu sou aquela comida que você nunca teve coragem de provar.
Eu sou a falta de palavras
Eu sou a poesia incompleta desde quando parei de me importar comigo mesma.
Eu sou um eterno infinito de incompletos que ja não me machucam.
Eu sou o medo do escuro
O grito no silêncio
O fio de luz na escuridão
Sou aquilo que me apriosiona desde quando parti e não disse adeus.
Eu sou a tentativa de escrever sobre o que me rasga o peito, mas agora, eu sou uma caneta sem tinta.

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Confiança

Pouco tempo antes de desencarnar, vovó me disse: "minha filha, confiança é algo que não existe". Eu nunca confiei nela. Ele sempre prometia pra minha mãe que não comeria doce e quando mamãe viajava ela me mandava escondida na "bodega" comprar uma caixa de leite condensado pra gente comer com "bolacha fortaleza".
Mamãe sempre soube, eu sei disso. Talvez seja por isso que eu me senti tão culpada quando a diabetes a transformou em uma velhinha indefesa, esse foi o ápice da minha tristeza.

O fato não é a diabetes nem o doce. O fato é a confiança. Mamãe dizia que confiava em mim e na vovó e fingia tão bem quanto eu. Confiava ao ponto de deixar que o doce acabasse um pouco com ela só pra ela se sentir melhor. Confiava tanto que nem confiava na verdade. Eu nunca entendi. Nunca entendi o porque disso.

Dia desses eu perguntei pra minha mãe se ela realmente confiava em determinada pessoa e ela disse, "filha, a confiança é algo que nem sempre existe". Nunca confiei na minha mãe. A primeira vez que cheguei de porre em casa ela perguntou se eu estava bem, eu disse que sim e ela voltou a dormir, mas ela sabia que eu não chegaria sóbria naquela madrugada.

A palavra confiança vem do Latim, CONFIDENTIA, “confiança”, de CONFIDERE, “acreditar plenamente, com firmeza”, formada por COM, intensificativo, mais FIDERE, “acreditar, crer”, que deriva de FIDES, “fé”

verbo intransitivo

Ter confiança.
Ter fé, ter esperança.
Acreditar.

Sempre quis exercer o -simples- ato de confiar e comecei por mim, nos últimos tempos estive tão confiante em mim mesma que não lembrei que atuava tão bem quanto minha mãe quando dizia que confiava em mim.

A minha segunda crise de ansiedade em um ano diz muito sobre a confiança, ou melhor dizendo, a falta dela.

Talvez a culpa seja minha
Em algum momento eu confiei demais, e expus uma parte sensível de mim para alguém que não soube respeitar a beleza disso. Doeu tanto que eu nunca mais deixei ninguém chegar perto dali.

Mas a cura da ferida que me faz enxergar todo mundo como um possível aproveitador é justamente ter um contato próximo, real e honesto com alguém - bem o que a desconfiança impede que aconteça.

Resta o esforço de aprender a baixar a guarda novamente, um pouquinho por dia. Se é possível voltar a acreditar em água fria depois de ter sido escaldada?

Desconfio que sim.

Escrevendo esse texto agora, digo pra você que eu entendo esse lance de confiança, apesar de nem sempre ela existir, -talvez- não possamos realmente viver sem deposita-la, e é melhor assim, de tanto falar que ela -talvez- nao exista, a gente absorve a ideia e uma hora, mesmo que de mentira, acabamos confiando.


É assim que é,

e é assim que tem sido.